domingo, 12 de abril de 2009

“Em algum lugar perto das árvores, eu acho que é possível encontrarmos a felicidade plena. Talvez estender uma toalha na grama, sentar e observar, seja a droga menos perigosa. Ignorar os insetos, deitar e deixar o sono chegar. Enquanto isso, respirar fundo e sentir, realmente, o cheiro que nos rodeia. Olhar a intensidade de cada cor de cada folha, de cada pedacinho do céu. Não precisa ser “um dia ensolarado sem nuvens no céu”, muito pelo contrário. Dias nublados são tão interessantes quanto – se não mais – dias cheios de sol e calor. As luzes são perfeitas para fotografias (diz meu avô) e as nuvens fazem desenhos inimagináveis e maravilhosos, quer ver num final de tarde.” Que clichê!
Os pensamentos infinitos se acorretam na vontade de ser feliz. Talvez o momento seja propício para uma reflexão, talvez o melhor seja esvaziar a mente. Não tenho paciência para clichês, o certo é apenas deixar as vontades assumirem o comando por alguns instantes. Daí sim, essa “felicidade” estará lá.

O nada

Cheguei no ponto de ônibus já enjoada. Atrasada, como sempre, quando perguntei se a linha pela qual eu esperava já havia passado, tive a resposta mais inconveniente que poderia ter no momento.
Certifiquei-me do trocado no bolso, arrumei um jeito mais confortável para esperar, mesmo que em pé, e assim permaneci.
Permaneci, até que o vitral da igreja à frente me chamara atenção. Nada que pudesse me concentrar por muito tempo.
Depois de alguns poucos momentos, pensando em nada, um carro preto deu sinal para estacionar na calçada em que me encontrava. Eu estava escutando música, com fones de ouvido, quando percebi algo além do barulho dos carros passando. Tirei os fones. O carro preto, o qual um senhor manobrava, estava com os vidros totalmente abertos, então me deparei com uma outra música. O som era uma mescla de violino e piano, em tons fortes.
O senhor continuava a manobrar, e eu – que já tirara os fones-, a apreciar. Quando me dei conta, encarava o carro com tamanha seriedade que pessoas em volta já estranhavam minha reação, enquanto o homem nem notar minha presença, havia notado. Contudo, não me intimidei. Estava maravilhada.
Comecei a imaginar, comecei a querer puxar um assunto. E se ele fechasse o vidro na minha cara? Eu queria saber ao menos o artista que compunha ou tocava aquela trilha sonora. Eu queria, eu podia dar aqueles dois passos e demonstrar o quão animada eu estava com tudo aquilo. Mas iria parecer ridículo. E as pessoas em volta? Seria patético. Inclusive, talvez tanto o senhor quanto os outros, teriam a impressão errada sobre mim.
Enquanto meus pensamentos fluíam, enfim, o carro estava estacionado ainda de janelas abertas e seu motorista abrira e começara a ler um livro, e um ônibus levou quase todos que esperavam ao meu lado.
Era minha chance. Cheguei a dar os dois passos, mas como se o senhor tivesse me repelido, chegou o carro mais à frente, numa vaga melhor.
Meu coração disparou, comecei a suar frio, de forma que apenas pensar em me manifestar quanto à ‘sua música’, já se tornava quase impossível para mim.
Não parei de querer tentar, naquele momento eu já precisava saber, perguntar pelo menos o nome do Cd. Entretanto, minha vontade que aumentava só parecia diminuir minha coragem.
Retornei à realidade por alguns segundos: não queria perder o ônibus. Mas logo retornei ao meu mundo paralelo momentâneo e os vidros do carro tinham sido fechados. Tudo havia acabado. A oportunidade se perdera. E talvez até, toda aquela “maravilha” possa não ter servido para nada – eu pensava.
O homem lentamente fechou seu livro, abriu a porta do carro, saiu, a trancou. “Pronto! Agora se ele vier na minha direção, eu falo!”
Ele foi caminhando para o lado contrario sem olhar para trás.
No instante em que parei de segui-lo com os olhos, ao dobrar a esquina, o nada voltou à minha cabeça.
Um segundo depois meu ônibus chegou.